13 de julho de 2016

RENÉE FERRAIOLO SILVEIRA, UM CORAÇÃO ONDE COUBERAM TODOS

 RENÉE FERRAIOLO SILVEIRA por Ana Maria Silveira em emocionante e singela matéria publicada no Jornal 'O Norte Fluminense', onde é articulista.
   
Renée Ferraiolo, em 1961
  
Nasceu Renée Braile Ferraiolo, em Resende-RJ, em 02 de dezembro de 1917. Seus pais, José Ferraiolo e Deolinda Braile Ferraiolo eram filhos de imigrantes italianos, que vieram para trabalhar nas lavouras de café. Acabaram todos migrando para o centro da cidade por não se adaptarem ao regime de semi escravatura e por terem, na grande maioria, suas profissões.

René foi muito bem-vinda ao mundo. Seus primos, primas, todos os familiares, falavam da sua Renéesinha com muito encantamento: “Era a criança mais querida, mais alegre, risonha e linda, a mais amorosa de todas!”.

Talvez, por ter sido a caçula da sua geração, era mimada por todos.

Diziam que quando ela foi para o Rio de Janeiro estudar deixou um imenso vazio.  Ficou sob o  regime de internato no Colégio Sacré Coeur de Marie, onde teve sua formação fundamental. Nesse período consolidou muitas amizades, que a acompanharam por toda a sua vida.

 
Renée, à esquerda, a menor, estudante do Colégio Sacré-Coeur de Marie - Rio de Janeiro, 
uniformizada juntamente com o pai José Ferraiolo e a irmã Egle. Foto de 1925
Sua marca era a generosidade.

Dotada de uma capacidade incomum para acolher a todos, não discriminava ninguém. Possuía um forte senso de dever e um espírito independente herdados dos avós anarquistas.

Logo deixou o colégio e retornou a Resende, foi ser auxiliar da sua tia Chiquinha, num consultório odontológico. Em seguida trabalhou no cartório do seu pai por longos anos e o substituiu como tabeliã. Nessa ocasião conheceu seu futuro marido, Badger Silveira, o novo delegado, encontro esse num momento de agitação na cidade.

Renée estava passeando por Campos Elíseos quando percebeu um grande aglomerado de pessoas em frente à loja de tecidos de um casal de poloneses recém chegados à cidade, que nem falavam ainda o nosso idioma. As pessoas, iradas com as notícias do afundamento do navio brasileiro pelos alemães, os confundiram, e resolveram depredar o imóvel do casal.

Indignada com a gratuita violência, a jovem Renée se pôs de braços abertos à frente de todos impedindo a selvageria e pediu para que um menino que por ali passava, fosse chamar o novo delegado, por todos ainda desconhecido. Quando Badger chegou, apresentou-se como tal. Pediu tranquilidade aos presentes num falar tão comovente que foi inesquecível para Renée.

Badger ficou impressionado com a coragem daquela jovem, enfrentando, sozinha, furiosos desconhecidos. Mais impressionado ainda ficou com a sua beleza. Dizia que nunca havia visto moça tão bonita e que se apaixonou perdidamente por ela desde então.

Casaram-se e iniciaram a vida em Resende. Pouco tempo depois, Roberto já estava em franca ascensão política. Decidiram ir para Niterói, pois poderiam acompanhar mais de perto os acontecimentos.
 
Renée e Badger, noivos, em Resende, em 1946
Toda a política dos Silveira passou a ser feita à Rua Lopes Trovão, 89. Renée sentia-se totalmente à vontade com toda aquela movimentação, pela qual já estava acostumada, pois seu pai, José Ferraiolo, havia sido prefeito de Resende durante 15 anos, acompanhando a presidência de Getúlio Vargas.
 
Maria Luíza (filha), Berenice (grande amiga), Cristina (filha) e Renée, em foto de 1960

Lá, constantemente, se reuniam Boanerges e os filhos. Não havia decisão partidária ou político-pessoal que os quatro não repassassem juntos, para chegarem à melhor solução. Às vezes entravam pela madrugada. Quando não chegavam a um consenso era comum o Roberto ou o Zequinha a chamarem, confiando na sua capacidade prática para resolver problemas:   “Comadrinha, você que tem experiência política, o que acha disso?”
Ou: “Renesinha, você que sabe tudo, qual a melhor solução?”

 
Badger Silveira, Renés Ferraiolo Silveira e os filhos José Roberto, Ana Maria, Maria Luiza e José Luis (gêmeos), Maria Cristina, Badger, José Fernando e Maria Tereza. Foto de 1962

Os filhos chegaram. Oito, no total.  Mas outros foram sendo acolhidos, e outros chegando e ficando, como a nossa Cecinha - Conceição de Maria Gama Pereira, o segundo anjo que Deus colocou na sua existência, a melhor filha que Renée teve.
 
Badger, governador, com Renée, em uma Escola Agrícola em Resende, idealizada e construída por Deolinda Ferraiolo, mãe de Renée, com o apoio da D. Darcy Vargas​. Foto de 1963
O primeiro anjo foi Idalina, ama-de-leite de Badger, nascida na fazenda São Tomé, em Bom Jesus do Itabapoana. Era a nossa amada Vó Preta, como fazia questão de ser chamada. Seu estar atenta a tudo permitia a Renée acompanhar Badger em todos os eventos.
 
Missa no Instituto Abel, em Niterói, comemorando as bodas, em abril de 1963

A eleição de Badger para governador reavivou em todos a  enorme esperança de realizar, no Estado, as obras que Roberto não pôde terminar.
 
Foto tirada em uma comemoração de aniversário de casamento​, no Palácio do Ingá. Da E para a D no primeiro plano: Cristina Silveira, filha de Edil e Berenice. Luninha Góes, a amiga Luísa, Renée, José Ferraiolo, pai de Renée, Badger, Deolinda Ferraiolo, mãe de Renée, Paula Jardim e Hugo, amigos, e o menino Marcelo Cruz.


 Renée, inesperadamente primeira-dama, montou uma pequena e eficiente equipe que conseguiu, em pouco tempo, atender a todos os municípios com obras sociais, eventos culturais, capacitação humana, como estimular as escolas agrícolas, e laser.
 
 Jorge Loretti ​em saudação ao aniversário de casamento no Palácio do Ingá

Um dos eventos que mais a animou foi participar da Feira da Providência a convite de D. Hélder Câmara, com a barraca do Estado do Rio de Janeiro. Seu esforço foi compensado, tendo sido uma das mais visitadas e, principalmente, por termos nos deliciado com a presença ímpar do amado D. Hélder, na ocasião do evento.

Muitos anos após a deposição de Badger pelo golpe militar, Renée ainda recebia visitas frequentes de funcionários do Palácio do Ingá. Levavam-lhe junto com flores e doces, afetuosos abraços e muitos jamais se esqueceram de cumprimentá-la pelos seus aniversários, natais ou viradas de ano.

Badger e Renée eram muito animados, estavam sempre juntos. Adoravam dançar, cantar, ir ao teatro, cinema ou comemorar qualquer coisa, com ou sem motivo. Suas festas juninas no sítio ficaram famosas, pois viraram casamenteiras. Os amigos  muito os admiravam pela afinidade, parceria e afetuosa cumplicidade.

Badger dizia que Renée, pela sua coragem, o impediu de ser sequestrado num episódio durante o golpe militar. Ela o segurou enquanto era levado preso por um grupo sinistro da Marinha, provavelmente do CENIMAR.  Gritou para seu irmão Roberto Ferraiolo para que avisasse o outro irmão, José Ferraiolo Filho, comandante. José comunicou-se com o então Ministro da Marinha, o almirante Augusto Rademaker que imediatamente enviou sua própria lancha que os recolheu e conduziu em segurança para o Ministério da Marinha.

Estava sempre pronta para defender seus semelhantes contra quaisquer injustiças. Católica devotadíssima.

Assim como Badger, foi uma filha, neta, irmã, esposa, mãe, avó, tia, prima, cunhada, nora, sogra, patroa e amiga maravilhosa. Igualmente destemida e desprendida dos bens materiais.
 
Renée Ferraiolo Silveira e Ruth Bueno, cunhada de Dinah, grandes amigas sempre


O genro Wagner Rocha bem a definiu no impresso do seu falecimento, em nove de novembro de 2005:

“ Renée Ferraiolo Silveira, um coração onde couberam todos.”

Ana Maria Silveira
21 de abril de 2016

Ana Maria Silveira é filha de Renée Ferraiolo Silveira e do ex-governador Badger Silveira



Sobre os filhos de Renée e Badger, todos naturais de Resende(RJ) e datas de nascimento:

José Roberto Ferraiolo Silveira : 05 de Janeiro de 1948
Ana Maria Ferraiolo da Silveira: 15 de Janeiro de 1949
Maria Luíza Ferraiolo, 02 de Outubro de 1950
José Luiz Ferraiolo Silveira (gêmeos): 02 de Outubro de 1950
Maria Cristina Silveira da Rocha: 23 de Maio de 1952
Badger Teixeira da Silveira Filho: 09 de Junho de 1956
José Fernando Ferraiolo Silveira: 08 de Janeiro de 1961
Maria Teresa Ferraiolo Silveira: 29 de Dezembro de 1961

José Roberto Ferraiolo Silveira, topógrafo, e Glicélia do Carmo Rodrigues. Filhos: Natália Poliana Rodrigues da Silva, mãe de Angelina Renée; Natasha Christina Rodrigues Silveira, estudante de Arquitetura; Arthur Felippe Rodrigues Silveira, vestibulando.

Ana Maria Ferraiolo da Silveira e José Jeremias de Oliveira Filho, professor da USP-Universidade de São Paulo. Filhos: Fabio Silveira de Oliveira, CGU- Controladoria Geral da União e Franciele Fernanda Borges de Oliveira (nora), administradora, e Aline Silveira de Oliveira, advogada pós-graduada em Direito Constitucional, mãe de Giuliana.

José Luiz Ferraiolo Silveira, artesão.

Maria Cristina Silveira da Rocha, formação:  turismóloga, do lar, casada com Wagner Neves Rocha, nascido em Niterói aos 26 de junho de 1939, formação antropólogo, professor da UFF aposentado. Pais de Gabriel Silveira da Rocha, nascido em Niterói aos 4 de janeiro de 1975, formação advogado, casado com Sabrina Antunes da Rocha.
Badger Silveira Filho, servidor público aposentado

José Fernando Ferraiolo Silveira, agrônomo.
Maria Luíza e
Maria Teresa Ferraiolo Silveira, falecida.

TROVA DE BADGER PARA RENÉE


"Eu nas contas sou um bamba,
 Faço tudo, arrumo bomba,
 Tendo a Renée ao meu lado!
 Do contrário eu me aperto
 Erro tudo, nada acerto,
 Fico todo encabulado..."


Carta de RENÉE FERRAIOLO SILVEIRA 
ao DR. LUCIANO AUGUSTO BASTOS,
diretor do Colégio Rio Branco, no dia 7 de agosto de 2000



 
"Prezado Senhor,
 Honrados pela homenagem e orgulhosos pelo fato de nosso inesquecível esposo e pai, Badger Teixeria da Silveira, ser tão carinhosamente lembrado por seus concidadãos, eu e meus filhos lamentamos a impossibilidade de comparecer à solenidade por razões de saúde e compromissos anteriormente assumidos. No entanto, agradecemos seu amável convite e esteja certo de que, em espírito, estaremos irmanados nesta festa exemplar em que bonjesuenses históricos servirão de modelo para as gerações futuras."


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